Amando o mesmo brigadeiro desde 2012
Não vou começar esse texto explicando o que é o Maní, a internet está inundada de textos descritivos e informativos sobre esse restaurante mais do que conhecido. O que quero falar aqui é do meu Maní, o Maní que tem um significado especial para mim. Há muito anos atrás fui nessa linda casa pois ouvi falar que a cozinheira lá cozinhava ingredientes brasileiros como ninguém. Nessa época não existia isso de redes sociais, fotos e influencers para todo lado. Nem um rastreador do google maps que quando cheguei em frente ao restaurante, dessa última vez, me sugeriu ver o que as pessoas que frequentam o Maní têm pedido. Fiquei intrigada com a sugestão, afinal o que me importa saber o que as pessoas que vão lá estão pedindo. Não vai ser a desconhecida Patrícia ou o nunca-antes-visto Maurício que vão me dizer o que eu devo comer num dos restaurantes mais renomados da cidade. Quem vai me dizer o que eu vou comer é o sempre delicioso cardápio que mistura comida brasileira e inovação técnica de forma primorosa que só quem sabe o que está fazendo faz. Tudo no Maní é incrível, a menor da folhas que você encontrar no seu prato, é o prato. Cada gota de molho, jus, emulsão, é o prato. Cada grão, pedaço ou fatia, é o prato. Tudo tem sabor, tudo tem importância, tudo tem propósito. Desde sempre no mesmo endereço, sempre do mesmo jeitinho, mas sempre um pouco diferente, com o corredor da alegria que te permite espiar o que se passa na cozinha, com as paredes caiadas de branco, com a jabuticabeira no jardim, com o gato que tudo vê la em cima. Não teve uma vez que eu tenha ido lá, e já foram algumas, que não tenha saído com a sensação de “que bom que existe um lugar de precisão assim”. Já fui no Maní namorar, comemorar aniversário, encontrar amigos, namorar mais algumas vezes e até casar. Bem, não foi bem no Maní, foi no Manioca, mas nesse caso dá quase no mesmo. Foi em 2012, faz tempo mas parece que foi ontem. Não esqueço os pirulitos de parmesão, o shot de caprese que explodia na boca, o talharim de pupunha, o caldinho de feijão, nem as caipirinhas. Mas tem uma coisa que eu amo profundamente naquela cozinha, e sigo amando. É a última coisa de toda a viagem no Maní, pequeno, discreto, fazendo par com o café. Nem consta no menu, nem em lugar nenhum, o brigadeiro. Eu amava tanto esse brigadeiro nos idos 2012 que queria que ele fosse o único doce do casamento, ideia veementemente descartada por todos. Teve brigadeiro, mas também uns outros intrusos. Naquele dia eu me arrependi de duas coisas, de não ter batido o pé e colocado apenas brigadeiros para adoçar a vida da festa, porque o abismo entre ele e os outros doces era tão imenso que sinto pena dos docinhos só de pensar; e de não ter pedido a Helena para tirar uma foto com ela, eu já a admirava e sei que nesse dia ela estava ali, na porta ao lado. Não pedi, fiquei tímida, ficou para uma próxima vez. Enfim, mas não era sobre 2012 que eu queria falar, era sobre o que eu comi esse fim de semana, depois de 6 anos sem ir ao Maní por motivos de estava-morando-fora. E acreditem ou não, fiquei feliz como na primeira, segunda, terceira vez, constatei aquilo tudo que já tinha constatado tantas vezes, tudo lá é incrível. Dessa vez estava determinada a comprar o livro do restaurante, desejo desde 2018, e se tivesse a chance de tirar aquela velha fotografia com a Helena.
O livro eu consegui trazer para casa, e é super bonito, com muitas fotos e textos, um projeto gráfico caprichado com papeis de cores, tipos e gramaturas variadas, dividido em 4 partes (conexões, que fala da Helena Rizzo, Daniel Redondo e várias outras pessoas que fizeram e fazem parte da história do restaurante; bastidores, com fotos da equipe; receitas, que fazem a gente babar e desejar ter a coragem de ousar reproduzir qualquer um dos pratos; e fornecedores, sempre muito bom poder de onde vem o alimento que vai para o prato).
Infelizmente, Helena não estava lá para o segundo desejo se concretizar, mas comecei minha travessia com a alegria imensa de provar um dos melhores pães que comi em São Paulo desde que voltamos, acompanhado da melhor manteiga artesanal do mundo, daquelas manteigas quase brancas com um toque de flor de sal em cima, junto com o super biscoito de polvilho gigante famoso do Maní e depois uma ostra com Cambuci, maçã-verde, pepino e limão caviar. Daí segui para beterraba recheada com creme de fígado de galinha e amora servido com um vinagrete de tomar até a última gota com a colher ou de virar a cumbuca se estivesse na intimidade do lar, depois um porco preto com mini-mini-mini-milhos, abacaxi, jalapeño, azedinha e uma canjiquinha de perder o fôlego servida ao lado, para então acabar me acabar de felicidade num sagu, com coco, bacuri, aluá e tucupi preto, coisa rara sobremesa que eu goste.
Que alegria passear por tantos lugares, tantas lembranças e tantos sabores. Para arrematar aquela mini esfera magnificamente bem preparada chamada de brigadeiro, que nunca vi um melhor na vida e sigo tentando reproduzir desde os tempos de noiva, uma pena que a receita não está no livro, essa eu me arriscaria sem dúvida a fazer. Quem sabe um dia não encontro Helena, tiro aquela minha velha fotografia e troco essa receita em um pedaço de papel de pão.